segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O tempo e os tipo

Dia desses comprei uma máquina de escrever (Olivetti Lettera 82, fabricada em 1984) e isso me inspirou. Daí fiz uma crônica sobre isso. Digam o que acharam, ok?

O tempo e os tipos

Quis o acaso que eles se reencontrassem. Assim, sem busca nem dor, como aquela teimosia que faz seguir quando todos os sinais mandam parar.

Foram anos andando pelas mesmas ruas sem que seus caminhos se cruzassem, mas, nesse dia, seguindo a Teoria do Eterno Retorno de Nietzsche, o passado voltava ao presente para mudar seus futuros.

Bastou um segundo para que seus olhares se cruzassem, a multidão sumisse e aquelas lembranças que juravam mortas voltassem. Compreenderam, de pronto, que a distância não fora capaz de apagar por completo as marcas que tinham deixado um no outro.

Ele ainda se lembrava de seu abraço envolvente, do modo como se sentia preso à ela, avesso a seus próprios desejos. Ela não esquecera o toque de sua pele alva, a imponência de suas costas largas, a sensação de proteção da sua presença e de como tudo parecia inútil sem ele.

Foi nesse instante que o acaso passou e soprou algo em seus ouvidos. Quando se deram conta, já estavam um nos braços do outro. Cada beijo apaixonado que ela lhe dava revelava as batidas compassadas de seu coração e imprimia no rosto do amado desejos aprisionados pelo tempo.

Entregue aos carinhos dela, ele deu-se conta de que sua existência fazia sentido, que o vazio que há muito habitava seu peito se fora. Era, enfim, um ser compreendido.

Ao final, mergulhados em um misto de exaustão e felicidade, perceberam que, juntos, eram mais do que máquina e papel. Eram inspiração.



(Mônica Munuera)

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